Amor perdido~Capítulo 06



Abri meus olhos e vi um lugar desconhecido. Sentei na cama em que eu estava e vi Phelipe deitado no chão sobre um lençol. Tentei não fazer barulho ao me levantar mas acabei tropeçando em uma camisa jogada no chão e caí em cima do moreno. É sério isso? Tanto lugar pra cair e eu acho de desmoronar em cima do cara que me humilhou na frente dos seus amigos?


- Ei, o que você está fazendo? - Disse Phelipe, confuso.

- E-Eu só tropecei.. Não foi minha intenção..- Eu podia sentir minhas bochechas queimarem. Nossos rostos estavam à centímetros de distância.

- Já entendi. Agora sai de cima de mim. - Pela primeira vez, notei que ele também estava um pouco envergonhado.

Me levantei depressa e sentei na cama. O silêncio estava me deixando mais inquieta.

- C-como eu vim parar aqui? - Meu nervosismo estava aparente, embora eu fizesse de tudo para que Phelipe não notasse.

- Depois que eu bati naquele cara, você desmaiou. Eu não sei onde é sua casa, então resolvi te trazer pra cá..

Por uma momento eu havia esquecido o que acontecera na noite anterior. Meus olhos começaram a queimar anunciando a chegada de lágrimas.

- Hum.. Obrigada por me salv..- Não consegui terminar a frase. Comecei a chorar e Phelipe me envolveu em seus braços.

- Está tudo bem agora. Eu não vou deixar ninguém te machucar.

- Como não? - Me soltei de seu abraço - Você mesmo faz isso!

-  M-me desculpe. - Seu olhar estava baixo e pude ver que ele estava sendo sincero. - Eu só não queria te fazer sofrer..

- VOCÊ JÁ DISSE ISSO! - Não consegui me conter.

- Eu sei..

Suas respostas estavam vazias demais. Phelipe estava escondendo algo de mim desde o início e eu queria saber de tudo.

- Você está estranho desde que os guardas florestais nos encontraram. O que aconteceu? EU GOSTARIA QUE VOCÊ ME EXPLICASSE!

- Eu não posso, desculpa..

- NÃO PODE? Ah, eu tenho certeza que pode sim. Como você acha que eu me sinto? Eu achei que você me amava.. -Fui em direção a porta. Não podia mais ficar ali.

- Eu...Eu tenho leucemia, Bella. A doença foi diagnosticada um mês antes de nos encontrarmos no acampamento.- Parei abruptamente. Minha cabeça estava girando. Leucemia? Isso não pode ser verdade.

Tenho leucemia linfoide aguda. Quando eu comecei a apresentar os sintomas, minha mãe me levou para o hospital e foi descoberto no início. Tenho 70% de chance de cura.- Phelipe fez uma pausa mas logo prosseguiu - Na época em que descobri, eu achava que ia morrer, foi então que meu pai decidiu me mandar para o acampamento para que eu esquecesse um pouco. Eu já estava aceitando a doença, foi aí que te conheci. Quando os guardas nos encontraram, eu percebi que todo esse inferno que estou vivendo voltaria e não queria que você fizesse parte dele, então decidi que te afastaria, não importa como fosse..

A tristeza era evidente em seu olhar. Eu queria poder fazer algo para corrigir meu erro de tê-lo julgado sem saber o que houve.

- Eu faço quimioterapia e talvez precisarei de um transplante.. Às vezes fico pensando no que acontecerá comigo. Não ligo para minha morte, mas não quero te deixar. - Lágrimas começaram a escorrer por sua face e eu comecei a chorar também.

- Vai ficar tudo bem. Você não vai morrer.. Eu nunca vou te deixar. - Eu o abracei forte. Nunca mais queria soltá-lo. Eu ia enfrentar essa doença junto com ele.

~~**~~

Depois de conversarmos, decidi ir embora. Gabi deveria estar preocupada desde que desapareci na noite passada. Quando cheguei em casa, liguei para minha amiga.

- ONDE VOCÊ ESTAVA? QUASE MORRI DE PREOCUPAÇÃO, BELLA.

- Aconteceu algo e... Phelipe me levou pra casa dele..

- O QUÊ?

- Não aconteceu nada demais.. Eu desmaiei e ele me levou para sua casa já que não sabe onde eu moro..

- Aff, esse garoto é muito suspeito. - Disse Gabi em tom de desconfiança.

- Tá bom, vou desligar. Beijo.

Me deitei na cama e fiquei pensando na doença de Phelipe. Será que ele vai se curar? Lágrimas corriam pelo meu rosto. Não conseguia pensar na morte de uma pessoa tão importante.

Meus pensamentos foram interrompidos pelo grito de minha mãe me chamando.

- Bella, desça aqui, por favor!

- Já estou indo mãe. - Sequei meu rosto e desci as escadas.

- Filha, você passou a noite fora sem ao menos me dar uma explicação. Onde estava? - Minha mãe falava enquanto cortava tomates na cozinha. Ela parecia nervosa e preocupada.

- A-ah mãe, eu dormi na casa da Gab..

- Mentira! Seu padrasto viu sua amiga se agarrando com um garoto na esquina e você não estava com ela. - Minha mãe não estava gritando mas sua voz estava mais alterada que o normal.

- Tá, vou te contar a verdade. Eu fui na festa de uma colega de classe com a Gabi e desmaiei. Quem me socorreu foi um amigo e, como ele não sabia onde moro, me levou pra casa dele. Não rolou nada, mãe..

- Ah, e você quer que eu acredite? Minha filha, não podemos confiar nos garotos. Quando você menos esperar, esse cara está te agarrando. - Mal sabia ela que eu quase fui estuprada na noite anterior.

- Tá bom, vou tomar mais cuidado.


~~**~~

Era sábado e eu queria conversar com alguém sobre a doença de Phelipe. Decidi ligar para Daniel que, por sorte, havia me dado seu número antes de Gabi chegar no café no dia anterior.

- Alô, Daniel? Sou eu, a Bella. Você poderia me encontrar no café? Ok, até.

Tomei um banho, me vesti e saí de casa. Depois de 30 minutos Daniel chegou no café.

- Olá. - Disse o loiro com um sorriso no rosto.

- Oi - Se eu não tivesse descoberto sobre o câncer de Phelipe, eu teria ficado encantada com a expressão de Daniel.

- O que aconteceu para você querer me ver? - Perguntou ao se sentar. - Fiquei preocupado. Achei que tinha acontecido alguma coisa.

- Aconteceu. Phelipe tem leucemia. - Abaixei meu olhar para minhas mãos que estavam sobre a mesa na tentativa de conter minhas lágrimas que estavam quase vindo novamente.

- Eu sei - Fiquei perturbada com a indiferença na voz de Daniel.

-V-você sabe? Como assim? - Minhas voz estava trêmula.

- Eu vivo com ele há 3 anos. Ah, me esqueci que você ainda não sabe, então deixe-me explicar. Sua expressão ficou mais séria. - Desde a quinta série sou amigo de Phelipe. Já devo ter mencionado que ele sofria bullying e talz. Eu o ajudava até chegar ao ponto de eu começar a ser caçoado por meus colegas também. Foi aí que eu comecei a bater nele para que minha reputação voltasse a ser como era antes. - Daniel soltou um riso e prosseguiu - Olha, eu sei que você deve estar meio confusa agora, mas sério, não fiz isso porque queria machucá-lo, eu me arrependo.

- O-o qu..

- Depois de um ano, nossos pais de conheceram e se casaram. Desde então minha vida têm sido um inferno. Phelipe é o centro das atenções por ter notas melhores que as minhas, você não sabe o quanto isso é irritante - O loiro prolongou o "irritante" - Logo após a descoberta dessa doença, tudo só piorou. Cara, isso tem que acabar logo. Eu odeio o jeito com que ele se faz de coitadinho após a quimioterapia.

- CALA ESSA BOCA! - Por um momento, me esqueci que estava em um café. Todos olhavam para mim. Tentei falar mais baixo. - Eu conheço o Phelipe a menos tempo mas sei melhor do que você que ele nunca se faria de coitadinho. Ele está doente, será que você não entende isso!? - Fiz uma pausa para tomar fôlego - E se ele é "O centro da atenções" é porque ele é MELHOR que você.. Tudo isso é culpa da sua falta de capacidade. Nossa, como fui idiota em acreditar que você era uma pessoa boa.. Nunca mais olhe na minha cara, OUVIU!?

Saí do café batendo os pés. Eu não podia acreditar no que tinha acabado de ouvir. Eu achava que Daniel era meu amigo e que queria me proteger, mas não era isso. Ele só queria ver seu meio irmão humilhado, e pior.. morto. Não estava conseguindo raciocinar direito, foi então que me dei conta de que estava indo para a casa de Phelipe.

Parei em frente a porta e exitei por um segundo até bater. Quem me atendeu foi uma senhora de cabelos negros com fios grisalhos.

- Olá, o que deseja? - Sua voz era suave e acolhedora.

- Eu gostaria de ver o Phelipe..

- Querida, ele não está muito bem agora, hum.. Ele pegou uma gripe.

- Eu preciso ver ele, por favor. - A mulher viu o desespero em minha voz e me deixou entrar na casa. Ela indicou o quarto de Phelipe com o dedo e fui em direção a ele.

Não me lembrei de bater em sua porta. Lágrimas já estavam sobre minha face.

- O que houve? - Disse o moreno ao me ver no estado em que eu estava.

- Eu só.. Eu só queria te ver. - Me afundei em seus braços e permaneci ali até me acalmar. As mãos de Phel estavam acariciando meus cabelos.

- Está tudo bem agora. O que aconteceu, Bella?

- Eu me encontrei com Daniel e ele me contou tudo.

- O QUÊ? - Me afastei de seu peito e encarei seu olhar desesperado.

- Ele me contou tudo, Phelipe.. Ele é.. repugnante. - Os olhos azuis e profundos se suavizaram e fui puxada para seu peito novamente. Ah, isso é tão bom.

- Eu sei. - Disse ele, rindo. - Sei disso desde que o conheci.. Não fique abalada com as palavras de Daniel, eu sei que nem tudo o que ele fala é o que realmente está sentindo. Ele só se faz de durão.

Tudo o que consegui dizer foi "Hum". Nos deitamos na cama de Phel e logo adormeci em seus braços.
~~**~~

Quando acordei já tinha anoitecido. Cara, eu dormi tanto assim? Me levantei rapidamente, dei um beijo no rosto do moreno que ainda estava com os olhos fechados e fui pra casa.

Depois de tomar um banho, me vesti e deitei em minha cama na esperança de dormir logo, o que não aconteceu. Não parava de pensar no futuro, na doença de Phelipe e no que Daniel havia dito. Hoje foi um dia longo e cheio de surpresas ruins. Por um momento eu queria nunca ter ido para aquele acampamento, mas logo afastei esse pensamento e fechei meus olhos. Eu sabia que teria que enfrentar muitas coisas de agora em diante. Eu precisava ser forte, não só por mim mas por Phelipe. Ele estava contando com meu apoio e eu não podia deixá-lo. Eu o amava..

escrita por NYA





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